Carta e fotos de Mingyur Rinpoche em retiro
Mingyur Rinpoche entrou em retiro em 2011, deixando uma carta (postada aqui em outubro de 2011) para seus familiares e alunos. Desde então, pouco se sabe sobre Rinpoche. Recentemente seu site oficial publicou uma carta e alguns fotografias. Segue a reprodução da carta e as fotografias feitas por Lama Tashi em setembro de 2013.
Mingyur Rinpoche alegre e contente
Recebemos as seguintes
cartas e fotografias do Lama Tashi, amigo próximo e assistente de
Mingyur Rinpoche. Quando no ano passado se encontraram, Mingyur Rinpoche
tinha acabado de sair de um retido rigoroso em Yolmo, um local de
retiros sagrado situado na profundidade dos Himalaias, e ia a caminho de
Dolpo, outro local sagrado perto da fronteira entre o Tibete e o Nepal.
Mingyur Rinpoche procurava provisões quando Lama Tashi o encontrou.
Nessa altura, Rinpoche estava numa pequena pensão com falta de roupas e
alimentos. O saco de dormir e o colete que veem nestas fotografias foram-lhe
então oferecidos pelo Lama Tashi. Atualmente não sabemos onde o Rinpoche
está, nem quando sairá de retiro, mas a julgar por esta carta, está com
saúde e obviamente a gozar a vida de um yogi errante!
Carta original escrita a mão por Mingyur Rinpoche
Para a minha querida mãe, parentes, comunidade monástica, estudantes e todos com quem partilho uma conexão,
Graças às bençãos dos
gurus, estou de boa saúde e não tenho tido quaisquer obstáculos. De
momento vagueio de um lado para o outro, sem me fixar em local algum.
Neste momento estou com o Lama Tashi, com quem me encontrei
inesperadamente. O Lama Tashi pediu insistentemente para me acompanhar e
eu aceitei o seu pedido. Ele deu-me alguma comida, roupa e outras
necessidades. Deu-me também algumas boas e más notícias, que me deixaram
com uma mistura de sentimentos de alegria e tristeza.
Recentemente, o Lama Tashi
tem estado a realizar diligentemente as práticas de fundação (ngondro) e
as práticas principais do Mahamudra e do Dzogchen. Quanto a mim,
vagueio sem locação fixa, ficando em ermidas isoladas nas montanhas e
noutros locais semelhantes. Pude experimentar sentimentos de felicidade e
sofrimento, altos e baixos como os das ondas à superfície do mar. Houve
alturas em que os alimentos e as roupas tiveram dificuldade em aparecer
e em que senti frio, fome e sede. Mesmo quando pedia esmolas, apenas
recebia insultos e palavras duras. Noutras alturas recebi sem esforço
comida e roupas, mesmo sem as pedir, e senti no meu espírito como se
estivesse a gozar os prazeres dos deuses. Embora tivesse experimentado
tanto a felicidade como o sofrimento, o mais importante é que um
profundo e sentido sentimento de certeza surgiu da profundidade do meu
ser, um sentimento tal que, aconteça o que acontecer, sei que a
verdadeira natureza dessas experiências, a sua própria essência, é
consciência primordial e vasta compaixão.
Esta claridade natural da
consciência está conosco desde sempre. É a própria essência e a
verdadeira natureza do nosso espírito. Dia e noite está sempre presente.
Assim, devemos manter o fluxo da consciência pura tanto quanto somos
capazes de o fazer, sem meditarmos e contudo sem nos deixarmos perder na
distração. Grande amor e compaixão são também qualidades inatas do
nosso ser. Todos os pensamentos, emoções destrutivas e sofrimentos que
encontramos são, em essência, completamente permeados pela vasta
compaixão. Como um sinal disto, desejamos naturalmente gozar da
felicidade e estar livres do sofrimento. Embora todos os seres tenham
grande sabedoria e compaixão, nem sempre isso é aparente O que se deve
simplesmente ao não reconhecimento daquilo que possuem desde já. Assim, à
parte o mero reconhecimento da nossa verdadeira natureza, não há a mais
pequena coisa a meditar. Tendo reconhecido a importância disso, tenho
passado os dias sentindo-me alegre e contente, andando de vales em
montanhas e permanecendo aqui e acolá. Do fundo do meu coração,
encorajo-vos a todos a praticarem igualmente desta maneira.
O Lama Tashi volta agora
para a cidade com esta carta e, a seu pedido, com algumas fotografias do
meu retiro. Espero que fiquem contentes em recebê-las. Rezo para que
nos encontremos de novo em breve, numa reunião alegre e feliz, para
gozarmos juntos as riquezas do Dharma.
Mingyur Tulku
2 de Janeiro de 2014
2 de Janeiro de 2014
Caminhando pelos altos himalaias
Em frente sua caverna de retiros
Rinpoche em sua caverna de retiro
Rinpoche preparando sua refeição
Retirado na montanhas
Lama Tashi e Mingyur Rinpoche
Comentários