Sugestão para as "resoluções de Ano Novo"
Dzongsar Khyentse Rinpoche, apreciando a bela cordilheira do Himalaia,
durante as iniciações de Pema Lingpa em Spiti, Himachal Pradesh, India.
Agora nós descobrimos que ainda estamos vivos após o fim do
mundo em 21 dezembro de 2012, o Ano Novo é logo ao dobrar a esquina. Então,
gostaria de oferecer uma sugestão para suas “resoluções de ano novo”. Por quê não parar de desperdiçar
pensamentos, tempo e energia? No mínimo, você poderia tentar
não desperdiçar no nível material, como poupar energia apagando as luzes. Ou,
não desperdiçar alimento. Os americanos em particular, desperdiçam muita comida,
o que é ao mesmo tempo insano e completamente imoral. Se formos comparar, o
caso da Monica Lewinsky nem chega perto de tamanha imoralidade. Os americanos
desperdiçam comida, roupa, gasolina, não é só 100% imoral, isso também acarreta
consequências globais imediatas para o conjunto da população do mundo e do meio
ambiente.
“Não desperdiçar” é a chave para a fortuna e para o sucesso.
Os chineses começaram a aprender com os americanos a arte do desperdício
notável, pensando ser marca de muita riqueza e abundância. Mas, quando
alguém faz cocô nas calças, não é bem o que devemos imitar. Nesse ponto,
preciso me lembrar, e você também, que recorro à America como um exemplo, mas o hábito imoral do desperdício é agora um
fenômeno global, não mais limitado à América e aos americanos.
Ouvi dizer que a rainha da Inglaterra aproveita o verso dos envelopes
usados para fazer listas e anotações, um hábito que adquiriu durante a segunda
Guerra Mundial e que ela continua a praticar até hoje. Devemos todos fazer
coisas assim. Olhe a sua volta, quanta coisa você tem no seu quarto? O quanto
disso você realmente precisa e o quanto é entulho? Claro, não estou sugerindo
rigorosas práticas ascéticas, estou apenas mostrando uma forma inteligente de possibilitar
uma vida mais fluente para cada um de nós. Certamente, o desperdício não é o caminho para
desfrutar de sua fortuna.
Penso também que estou assombrado por algo que minha mãe
sempre me dizia, quando eu era jovem e não termina meus pratos. Ela dizia que
se não comesse até ao última garfada, Dzambhala, o deus da riqueza ficaria
irritado e me castigaria pelo desperdício de comida fazendo-me um dia morrer de
fome. Conselhos antigos, atualmente fora de moda, e que contem muita sabedoria.
Todos os dias você deixa as luzes acesas sem necessidade. Você realmente precisa deixar
correndo a água do chuveiro enquanto ensaboa o cabelo?
No momento o mundo se vê diante da agonia de lidar com o
alto preço da gasolina, e as consequências disso, por exemplo, elevam o preço
das passagens de avião e ônibus e encarecem os produtos essenciais,
principalmente alimentos, então, muito mais caras. Mas a água é mais preciosa
ainda que a gasolina e se o que acontece agora com a gasolina acontecer com a
água, nosso sofrimento se elevará para altos níveis da agonia. Portanto, a raiz do problema é
causado por coisas simples e que podemos mudar, mas não mudamos.
Nós também desperdiçamos muito quando somos vitimados por
produtos desenvolvidos para serem desperdiçados e substituídos seguidamente. O
único objetivo por trás do marketing de tais produtos é ganhar obscenas
quantias de dinheiro, então, as empresas que vendem estes produtos nos conduzem
a criar hábitos de mais e mais desperdício, assim eles podem nos vender mais e
mais coisas inúteis.
De qualquer forma, isto é apenas meu blá blá blá de Ano Novo...
Mensagem postada no facebook de Dzongsar Jamyang Khyentse, em
28 de dezembro de 2012.
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