A vida de Jamyang Khyentse Chökyi Lodrö - parte 1
A
vida de Jamyang Khyentse Chökyi Lodrö
narrado
por Orgyen Tobgyal Rinpoche
Das incarnações de Jamyang Khyentse,
o segundo foi Jamyang Khyentse Chökyi Lodrö, cuja grandeza era tanta que me é
dificil sequer pronunciar seu nome, e no entanto faço-o como forma de
beneficiar os outros. O seu nome completo era Jamyang Khyentse Chölyi Lodrö Rimé
Tempé Gyaltsen Pal Zangpo. O seu nome secreto, dado pelo terceiro Dodrupchen
Rinpoche, Tempé Nyima, durante uma transmissão especial do Rigdzin Düpa, era
Pema Yeshe Dorje. Uma vez que este mestre, o soberano senhor do mandala, viveu
recentemente, existe muitas pessoas ainda vivas que podem-se recordar da sua
vida e confirmar o que agora vou contar.
A encarnação anterior, Pema Ösel Dongak
Lingpa, passou para o parinirvana e dissolveu a sua mente de sabedoria no coração
do grande pandita Vimalamitra na região da Montanha dos Cinco Picos de Wu Tai Shan
na China. Assim, de modo a beneficiar os ensinamentos e os seres na Terra das Neves,
ele reapareceu em cinco encarnações, tal como previsto no terma das profecias.
O Vajradhara Jamgön Lodrö Thayé supervisionou o reconhecimento destas encarnações
uma por uma. Cada um dos principais filhos do coração de Jamyang Khyentse Wangpo
encarregou-se de uma encarnação. Por exemplo, aquele pelo qual se encarregou
Jamgön Kongtrul, se instalou em Palgung e chamava-se Beru Khyentse. Uma encarnação
foi entronada no acento principal de Dzongsar, e outra no monastério Dzogchen.
Uma encarnação foi reconhecida por Pönlop Loter Wangpo e chamava-se Galing
Khyentse. Todas estas encarnações emulavam o seu predecessor nas suas qualidades
sem paralelo de aprender, das experiências, realizações e da atividade
iluminada. Mas de todas estas, a que se destaca como uma jóia a ornamentar o
topo de uma grande bandeira de vitória é Jamyang Khyentse Chökyi Lodrö.
O sobrinho e supremo discípulo próximo
de Jamyang Khyentse Wangpo, Kathok Situ Chökyi Gyatso, não tinha uma reincarnação
no seu mosteiro de Kathok, e assim com petições fervorosas e unidirecionadas,
ele requereu ao Vajradhara Jamgön Kongtrul Lodrö Thayé para encontrar mais uma
encarnação para Kathok. Jamgön Kontrul disse que ele já tinha reconhecido o
corpo, a fala, a mente e qualidades de emanações, mas se requerido, ele poderia
reconhecer a atividade de emanação. Mesmo assim, ele alertou que seria difícil
para esta emanação beneficiar o acento principal do monastério. Ele explicou
que se ele se torna-se um praticante heruka, ele traria maior beneficio. Assim
Kathok Situ pediu-lhe para identificar a criança, e Jangön Kontrul viu que ele
nasceria no ano da cobra, como filho de Ridzin Tsewang Chokdrup, que por sua
vez era filho do grande tertön Serpa.
Era possível identificar a família
do pai até o grande tertön Düdul Dorje e incluía muitos outros autênticos
reveladores de tesouros. A família de sua mãe era de Amdo, e ela era descendente
do grande mestre Sergyi Chadral. Ele nasceu no ano da cobra d'água, e ocorreram
muitos sinais maravilhosos e extraordinários , mas a sua mãe e seu pai eram
ambos grandes praticantes de renuncia e não ficaram muito excitados com estas
coisas, de modo que não as registraram, nem registraram nenhuma das informações
astrológicas.
Tal como tinha sido requerido por
Kathok Situ Chökyi Gyatso, Jamgön Kongtrul reconheceu a criança como uma encarnação
de Jamyang Khyentse. Assim, com a idade de oito anos, ele foi convidado a tomar
o seu acento no monastério Kathok. No dia em que chegou a Kathok, toda a região
circundante de Horpo e Kathok estavam completamente cobertas de neve, de modo
que tudo estava branco, que era algo de muito incomum para a região, e a
população considerou isso como um sinal muito positivo para o futuro. Num dia
auspicioso, Kathok Situ Rinpoche realizou a cerimônia do corte de cabelo no
templo principal, na presença da grande estátua do Buda, e deu-lhe o nome Jamyang
Khyentse Chökyi Lodrö. Entre os outros tulkus e as outras pessoas do monastério,
nesse tempo, ele era simplesmente conhecido por Tulku Lodrö.
Quando ele aprendeu a ler com seu
tutor, conseguia ler sem dificuldade, e memorizava vários textos de práticas
Sakya e a Recitação dos Nomes de Mañjushri
simplesmente ao ler uma vez. Isto era um sinal de que ele estava retomando sua
memória da vida passada. Eu por vezes provoco alguns dos tulkus no nosso monastério
ao dizer, “O meu Lama memorizou a Recitação
dos Nomes de Mañjushri em criança, mesmo sem o estudar, e vocês tulkus estão
a recitá-lo à meses e ainda não conseguem memorizá-lo!”
Uma noite ele estava numa gruta de
retiro na colina atrás de Kathok, sentado num tapete ao lado de seu tutor e a
recitar orações. Enquanto ele recitava a Dharani do Subjugador do Vajra, ele consegui
ver claramente o monastério de Kathok lá em baixo, a brilhar ao luar da lua
cheia, e nesse momento ele teve uma visão do grande centro monástico dos Sakya,
tão claramente com se ele estivesse realmente lá, e claramente recordou-se da
sua vida como Ratna Vajra. Ele recordou todos os detalhes da sua vida e tudo o
que possuía tão claramente como se tivesse sido no dia anterior.
Numa ocasião, Kathok Situ Rinpoche
teve uma reunião com todos os tulkus residentes no monastério Kathok e
pediu-lhes para fazerem uma adivinhação especial durante o sonho e procurarem
por qualquer indicação sobre quem eles eram nas encarnações anteriores. Quando
eles regressaram para reportar o que tinham descoberto, alguns tulkus disseram
que deveriam ser encarnações deste ou daquele grande lama que tinham aparecido
em seus sonhos. Alguns diziam que tinham sonhado com Vajrakilaya ou com Tara,
ou qualquer outra deidade. Quando perguntaram a Tulku Lodrö – como era
conhecido na altura – sobre os seus sonhos, ele disse que não tinha sonhado com
alguém pouco usual, somente um homem tibetano comum vestido ao estilo do Tibet
central, com uma grande tchuba branca e um sobretudo azul, brincos turquesa, e
o seu cabelo estava atado atrás. Quando ele disse isto, Situ Rinpoche
pareceu surpreendido, e disse quão incrível era. “Impressionante”, disse ele, “Mas
será mesmo?” Todos os outros tulkus brincavam com ele ao dizer, “Somos encarnações
destes grandes mestres, mas Tulku Lodrö era somente este homem comum do Tibete
Central.” Mas mais tarde , ele apercebeu-se que isto era um sinal de que tinha
sido o Rei Trisong Detsen.
Em criança, Jamyang Khyentse
costumava explorar todos os lugares e estava sempre à procura de experimentar
coisas novas. Uma vez, quando seu tutor tinha-se ausentado por momentos, ele
começou a revolver as prateleiras e quando encontrou uma grande garrafa de mercúrio,
ele bebeu-o todo. Quando o tutor regressou, viu gotas de mercúrio no chão, e ao
olhar as prateleiras viu a garrafa vazia. Ele disse a Tulku Lodrö para se
levantar, mas ao fazê-lo, gotas de mercúrio rebolaram de suas vestes. O tutor
disse “Tinha uma garrafa de mercúrio na minha prateleira, onde está ela?” Jamyang
Khyentse respondeu, “Bebi-a.” O tutor simplesmente olhou para ele. Mais tarde o
tutor foi ter com Situ Rinpoche e disse, “O Tulku Lodrö é realmente excepcional.
Ele bebeu uma garrafa inteira de mercúrio e nem teve sequer uma dor de cabeça.
Não creio que seja uma criança comum.”
Ele também gostava de observar danças
e entretenimentos, e assim em ocasiões em que lhe apetecia observar algum tipo
de espetáculo, Ekadzati, a Protetora Gloriosa do Mantra Secreto, aparecia a ele e
a seu pedido, ela abriria seu peito para revelar o universo dos três reinos por
completo.
Num outro sonho que teve
enquanto criança, ele foi ao templo Tramdruk, onde uma grande mandala tinha
sido preparado para uma transmissão. Ali ele viu Guru Rinpoche sentado num
trono elevado, com muitas pessoas sentadas em filas, prontas para receber a
transmissão. Na fila em frente a ele, ele viu um monge e uma senhora num
vestido tibetano e outros tantos, e ao seu lado estava um homem com uma
vestimenta leiga comum. Em conjunto, eles todos recebiam a transmissão de Guru
Rinpoche. Mais tarde na sua vida ele apercebeu-se que os monges sentados em
frente a ele eram Vairochana e Namkhé Nyingpo e outros dos quais ele – Rei
Trisong Detsen – tinha recebido transmissões. A senhora tinha sido Yeshe
Tsogyal. Mesmo que ele tenha sido o rei do Tibet naquele tempo, não teria sido
correto para ele sentar-se na frente de seus mestres.
Aos treze anos de idade, Jamyang
Khyentse completou os seus estudos e foi enviado por Kathok Situ a viajar por
Horkhok e Dzachukha e recolher fundos para o monastério. Como ele diz na sua autobiografia
em verso, ele também foi ao reino de Ling:
Encontrei-me
com o rei e a rainha do Dharma de Ling,
E
expliquei-lhes de memória o Gang Gi.
Com
devoção recordaram-se do seu Lama,
E
ambos rei e rainha lágrimas verteram.
Desse
momento em diante, tornaram-se meus patrocinadores,
Com
votos puros, generosidade, devoção e bondade.
Como diz aqui, ele deu um comentário
elaborado sobre o Gang Gi Lodrö, a famosa oração a Mañjushri, ao rei de Ling,
que era um tertön, e a sua rainha e outros membros da família real. Eles tinha
sido estudantes do Jamyang Khyentse anterior, e quando ele ensinou eles ficaram
tão comovidos pelas suas memórias que o rei e a rainha realmente choraram, e
viram-no como Jamyang Khyentse Wangpo em pessoa. Daquele momento em diante, eles
tornaram-se seus patrocinadores.
Depois foi para Dzachukha e Adzom
Gar. Antes de lá chegar, Adzom Drukpa Natsok Randrol teve três sonhos nos quais
viu seu mestre raiz, Jamyang Khyentse Wangpo. Ele entendeu isso como uma indicação,
que o tulku de Kathok que ele estava à espera era a encarnação do seu mestre
Jamyang Khyentse Wangpo, e assim organizou uma recepção especial, com uma
tremenda procissão. Adzom Drukpa vestiu uma veste vermelha especial e atou o
seu cabelo de uma forma especial. Todos os estudantes cantaram a Canção da Festa de Tsok (tsok lu)
enquanto esperavam, e Adzom Drukpa foi pessoalmente receber Jamyang
Khyentse. Nesse momento, Adzom Drukpa fez uma grande oferenda de tudo o que
tinha recebido em doações. Mais tarde na sua vida, Jamyang Khyentse recordou
este evento e disse que tinha sido uma grande oferenda que será quase impossível
igualar.
Jamyang Khyentse Chokyi Lodro, Katok Situ, Khenpo Shenga e Jamgyal.
Durante o retiro de verão no monastério
Kathok, quando deu ensinamentos da Oração
de Aspiração de Sukhavati e em outros tópicos, ele inspirou muitos milhares
de acadêmicos com o brilho das suas explicações.
Durante três anos, enquanto o seu
tutor estava doente, Jamyang Khyentse trabalho arduamente para ir buscar água,
recolher lenha, cuidar do tutor e daí por diante. Ele não tinha ajuda de mais
ninguém, mas fez tudo por si só. Mais tarde, ele dizia que isto tinha sido um método
supremo de amealhar mérito e purificar os seus obscurecimentos. Ele costumava
dizer, “Purifiquei um pouco do meu karma negativo ao realmente servir o meu
mestre.” O seu mestre era muito estrito, e costumava bater-lhe quer houvesse
uma boa razão ou não. Mais tarde na sua vida, sempre que raspava a sua cabeça
podia-se ver as cicatrizes das pancadas. Foi no fim dos seus treze anos que o
seu tutor faleceu.
Nesta mesma época, a encarnação de
corpo de Jamyang Khyentse Wangpo, que ocupava o acento de Dzongsar, estava no
monastério Dzogchen para receber transmissões do Rinchen Terdzö (Precioso Tesouro de Termas) do quinto
Dzogchen Rinpoche, Thubten Chökyi Dorje, e faleceu prematuramente à idade de
treze. Quando isto aconteceu, o lama que estava responsável pelo monastério
Dzogchen, outro sobrinho de Jamyang Khyentse Wangpo, chamado Kalzang Dorje,
enviou uma carta a Situ Rinpoche na qual escreveu, “O tulku aqui do nosso
acento de Dzongsar faleceu, e eu próprio estou muito doente e perto da morte. Por
favor envie o tulku que está em Kathok para ocupar o acento de Khyentse aqui em
Dzongsar. Se recusar, pode prejudicar o seu samaya com Jamyang Khyentse, O
Grande. Este é o meu desejo na morte.”
Situ Rinpoche leu e releu a carta e
pensou que caso o lama ainda estivesse vivo haveria uma hipótese de
discutir o assunto com ele, mas ele sabia que ele tinha falecido. Então,
sabendo que recusar o pedido seria o equivalente a desobedecer ao seu próprio
mestre, não haveria outra hipótese senão levar Jamyang Khyentse Chökyi Lodrö à
Dzongsar. Ele levou-o pessoalmente. E assim Jamyang Khyentse entrou no monastério
de Dzongsar Tashi Lhatse com a idade de quinze.
Quando Kathok Situ e Jamyang Khyentse
chegaram a Dzongsar, foram para os aposentos principais do falecido
Jamyang Khyentse. Kathok Situ disse para o jovem Jamyang Khyentse, “Tens que
ficar aqui, mas eu não me atrevo a fazê-lo. Irei para o meu quarto.” Antes
de Situ Rinpoche regressar de Kathok, ele realizou a cerimônia de entronização
de Jamyang Khyentse, e mesmo só havendo alguns monges e lamas presentes,
foi feito de uma forma muito elaborada com um longo discurso nas cinco perfeições
e daí por diante. Na primeira noite, quando ele estava a pensar onde era
suposto ele dormir, olhou ao redor e viu algo feito de madeira que quase
parecia uma cama com um tapete feito de pele de animal, e pensou para consigo
que deveria ser o lugar. E assim dormiu nele. Alguns anos mais tarde quando
Kathok Situ regressou e foi à residência, Jamyang Khyentse pediu para ele se
sentar e apontou para a cama de madeira. Kathok Situ respondeu dizendo, “Como
poderia eu atrever-me a sentar-me ali?” E em vez disso ele prosternou-se a ela
e tocou-lhe com sua testa várias vezes. Depois olhou ao redor e perguntou a
Jamyang Khyentse, “Onde dormes?” Jamyang Khyentse apontou para a cama, e disse “Eu
durmo aí.” Nesse momento Kathok Situ pareceu desapontado e disse, “Ah, é
verdade o que eles dizem: onde um homem dorme, um cão também dorme.” Por
momentos não disse nada, mas depois acrescentou, “Nesta cama dormiu o mestre de
todas as linhagens dos ensinamentos do Buda no Tibet. Achas que é correto que
também durmas aqui?” Depois Jamyang Khyentse Chökyi Lodrö disse, “Talvez eu
deva deixar de dormir aí de agora em diante.” Mas Kathok Rinpoche disse; “Não,
deves continuar. Está tudo bem.”
Nessa época, havia um pequeno
conflito entre seguidores da encarnação descoberta por Loter Wangpo e os
apoiadores das outras encarnações. Antes que o conflito pudesse desenvolver-se,
o rei de Derge enviou o seu próprio emissário, um ministro chamado Jagö Tobden,
que declarou muito claramente que Jamyang Khyentse Chökyi Lodrö era o que
deveria ficar no acento de Dzongsar, e a outra encarnação deveria ficar no
monastério de Galon. Este julgamento resolveu o assunto e evitou mais discórdia.
Quando Jamyang Khyentse soube que Pönlop
Rinpoche, Loter Wangpo estavas prestes a dar as transmissões de Gyüde Kuntü (Compêndio de Tantras) ele viajou para
recebê-las. Loter Wangpo teve uma visão de Jamyang Khyentse Wangpo, que
considerou ser um sinal que esta encarnação era diferente das outras, e assim
ele próprio foi recebê-lo. Eles prepararam um acento bastante elevado com
almofadas de seda e fizeram oferendas elaboradas, de acordo com Jamyang
Khyentse, era a maior da honras. Loter Wangpo deu ele próprio todas as
transmissões do Compêndio de Tantras quando chegaram à seção dos tantras do
yoga inultrapassável . Em particular, quando chegou à introdução da natureza da
mente, foi efetuado de acordo com a tradição Sakya, com uma semana despendida
na investigação e no treino da mente, culminando com o lama a transmitir a sua
realização ao estudante. Neste momento, a mente do estudante tornou-se
inseparavelmente unida com a mente de sabedoria do mestre e ele adquiriu todas
as qualidade de realização.
Anos mais tarde, quando Jamyang
Khyentse Chökyi Lodrö já tinha estudado com algum numero entre cinquenta e
cinco e sessenta mestres autênticos, ele disse que, de todos eles, ele
considerou Loter Wangpo como o seu mestre raiz, e referia-se a ele como “O
Vajradhara Loter Wangpo”, dizendo que a sua bondade era incomparável.
Ele recebeu somente a seção dos
tantras do yoga inultrapassável (Skt. Anuttara) do Compêndio de Tantras, pois
nessa altura seu pai, Kyabje Tsewang Gyurme, estava a sua espera há quase um
ano em Dzongsar, tendo viajado para lá especificamente para lhe conceder as
mais importantes transmissões da escola Nyingma. Assim, sem receber as outras
seções, ele regressou ao seu acento em Dzongsar.
Quando chegou, seu pai Kyabje Ridzin
Chenpo deu-lhe as transmissões do Lama Gongdü de Sangye Lingpa, do Kagye, do
Chokling Tersar, e todas as outras principais transmissões do kama e do terma,
uma a seguir à outra durante um período de dois anos.
Na idade de quinze, ele começou a
ensinar alguns monges do monastério Dzongsar, dando-lhes ensinamentos na Perfeita Sabedoria (Skt.
Prajnaparamita). Ele recebeu também muitos ensinamentos e transmissões de
Kathok Situ Rinpoche, que era um dos seus principais mestres, e também recebeu
os votos monásticos.
Quando Shechen Gyaltsap Rinpoche veio
ao monastério Dzongsar, Jamyang Khyentse recebeu a transmissão de longa vida do
Könchok Chidü dele e pediu-lhe que
ficasse em Dzongsar para dar mais ensinamentos e transmissões. Shechen Gyaltsap
disse não poder ficar, pois a água na região de Dzongsar não era boa para a sua
saúde e ele teria que regressar ao monastério Shechen. Mas antes de ir, ele
disse, “És bem vindo a ir visitar-me lá, ficarei muito contente em dar-te
ensinamentos e transmissões, se esse for teu desejo.”
Então ele foi ao monastério Shechen,
chegando durante o retiro de verão. Gyaltsap Rinpoche estava a presidindo uma
cerimônia no templo principal, mas Jamyang Khyentse estava com tanta
pressa em encontrá-lo que em vez de enviar uma mensagem e esperar ser chamado
formalmente, ele entrou diretamente. Ao entrar, a assembléia estava a recitar a
oração para disseminar os ensinamentos, por Chokgyur Lingpa, conhecida por As Dez Direções e Os Quatro Tempos e
tinha acabado de chegar à linha: “Possam todos os mestres preciosos, os
esplendor dos ensinamentos, alcançar todos os lugares como o céu.” Eles pediram-lhe
que fosse para a residência do lama, e depois Gyaltsab Rinpoche deixou a assembléia
e juntou-se a ele. Gyaltsab Rinpoche disse-lhe quão auspicioso era que ele
tenham chegado naquele momento durante a prática, e continuou a repetir aquelas
duas linhas da oração enquanto se prosternava a Jamyang Khyentse.
Depois foram para a área de retiro
acima de Shechen e montaram uma pequena tenda de algodão. Shechen Gyaltsab concedeu-lhe
o Compêndio de Sadhanas (druptap kuntü),
Nyingtik Yabshyi, Damngak Dzö e outras transmissões. Dilgo
Khyentse Rinpoche tinha também sido convidado para o monastério Shechen nessa época,
e foi entronado por Shechen Gyaltsab nos seus aposentos.
Shenchen Gyaltsap e Kathok Situ
enfatizaram várias vezes que para os ensinamentos durarem para o futuro, tanto
o estudo como a prática deveriam ser estabelecidos exaustivamente. Eles diziam
que sem estudo e prática, os ensinamentos não teriam vida. Em concordância com
os seus conselhos, Jamyang Khyentse decidiu estabelecer um centro de estudos
(shedra) para beneficiar os ensinamentos e ajudar a assegurar a estabilidade do
Dharma no futuro.
Por volta desta época, o rei de
Derge, Tsewang Düdul, estava sendo entronado em Derge Gönchen, e os principais
lamas da região tinham sido todos convidados a participar na cerimônia. Jamyang
Khyentse foi lá e o grande Khenpo Shenga Rinpoche também estava lá. Khenpo
Shenga tinha estado a ensinar na shedra de Palpung, mas surgiu um pequeno
problema e então tinha-se mudado para Derge. Quando conheceu Khenpo Shenga,
Jamyang Khyentse disse, “Estou pensando em estabelecer um shedra em Dzongsar,
no Kham-jé, e precisarei de um khenpo. Você pode vir?” Por um momento, Khenpo
Shenga nada disse em resposta. Depois, passado algum tempo, ele disse,”Sim. Tal
será extremamente benéfico. Irei com certeza.” Mais tarde na vida, Jamyang
Khyentse Rinpoche olhou para este evento e disse que nada mais na sua vida
tinha sido tão auspicioso.
Depois de regressar a Dzongsar, no décimo
quinto dia do mês lunar, começaram os trabalhos nos quartos dos monges e no
templo de Kham-jé, renovando o Templo das Três Famílias do Buda (riksum lhakhang)
que havia sido construído por Jamyang Khyentse Wangpo. Nessa época, o Khyentse
Labrang era bastante pobre. Eles não tinham muito que pudesse ser trocado sem
ser uns poucos sacos de grãos, pacotes de chá e sal. Claro, eles tinham imagens
e representações do corpo, fala e mente iluminados, mas não eram pertences para
serem trocados. Isto significava que quando começaram o trabalho de preparar o
solo, e aí por diante, Jamyang Khyentse Rinpoche viajou para a área de Horkhok
para recolher fundos.
Durante as suas viagens, ele visitou
a casa da família Lakar, onde um grande tertön, de nome Ati Tertön, com
eles vivia e recitava orações para a família. A pedido da família Lakar,
Jamyang Khyentse ficou e efetuou práticas durante três dias. Ele realizou uma
cerimônia para convocar o espírito de abundância (yanguk) e concedeu uma
transmissão de longa vida do Chimé Pakma
Nyingtik. Quando estava a dar a transmissão, Ati Tertön também veio para
recebê-la. Nesse tempo, ele não era tão bem conhecido como seria mais tarde.
Quando a transmissão de longa vida terminou e todos estavam sentados em silêncio,
Ati Tertön levantou-se e começou a falar espontaneamente. “Hoje foi muito
auspicioso,” disse ele,”Fomos suficientemente afortunados para receber a transmissão
de longa vida, do Chimé Pakma Nyingtik,
através da encarnação de Jamyang Khyentse Wangpo.” Nesse momento tocou nas cabeças
de duas jovens moças, Tsering Chödrön e Tsering Wangmo, que eram muito novas, e
disse, “Mais tarde quando Jamyang Khyentse se tornar o grande Vajradhara, estas
duas farão parte da sua assembléia de dakinis, e nesse mesmo momento até eu
poderei ter a boa fortuna de ter alguma pequena utilidade. Foi tudo muito
auspicioso,” Jamyang Khyentse foi completamente tomado por surpresa com isto. “Que
diz esta pessoa?” ele perguntou. “nunca ouvi tal coisa!” Mas anos mais tarde
quando ele recordava este evento, ele disse, “Aquele tertön realmente sabia
algo.”
Gradualmente o shedra de Dzongsar
Kham-jé foi ficando pronto, e Shengpa Rinpohe tornou-se o primeiro na linhagem
de khenpos. Em muitos dos monastérios Sakya, no Tibet Oriental, havia a tradição
de se visitar o monastério mãe no Tibete Central. No caso de Dzongsar, isto
significava ir ao monastério Ngor. Assim, dando continuidade a este costume,
quando tinha cerca de vinte e quatro anos de idade, Jamyang Khyentse Chökyi
Lodrö foi ao Tibete Central e visitou muitos dos lugares sagrados da região em
conjunto com um pequeno séquito.
Quando ele chegou ao grande monastério
Ngor, como seguidor da linhagem Thartse, ele ficou na residência de Thartse
Shapdrung, e durante essa estadia recebeu os ensinamentos do Lamdré Tsokshé. Tal como o seu
predecessor Jamyang Khyentse Wangpo, que tinha sido o mais supremo dos praticantes
de mantra – um bhikshu Vajradhara – ele foi a Orgyen Mindroling para
receber a ordenação monástica completa de Khenpo Ngawang Thupten Norbu.
Comentários